sexta-feira, 20 de agosto de 2010


O Dar e o Receber
(por Denys Bernard)

Em Meca havia um barbeiro aposentado que gostava muito de conversar e fazer amizade. Na verdade, não precisava mais trabalhar, mas gostava de sentir-se útil. Naquela manhã, Yoneyed, homem santo, veio de muito longe para conseguir ajuda para os seus pobres, aproximou-se da barbearia e ficou olhando através do vidro. Ao vê-lo, o barbeiro fez ele entrar, cuidou da sua barba sem cobrar nada e ainda, deu-lhe uma esmola. O homem santo saiu de lá emocionado e, ao chegar à praça, olhou para céu e prometeu a Deus que daria para o barbeiro toda esmola que recebesse naquele dia. Não passara muito tempo quando um rico peregrino que passeava na praça o reconheceu e deu-lhe um saco de ouro. Yoneyed contente foi correndo até o barbeiro e entregou-lhe o ouro todo. Mas o barbeiro chorando disse: Yoneyed, quando fiz aquela boa ação por você, me senti abençoado por Deus. E agora, como você tem coragem de querer pagar com dinheiro aquilo que eu fiz somente por Amor? A gentileza do barbeiro impressionara Yoneyed que, saindo de lá, só pensava numa maneira de recompensá-lo. Ocorreu-lhe que uma recompensa material seria o mais justo. Porém, esquecera que o ouro que recebera do peregrino era para ajudar os seus pobres. Na verdade, a felicidade do barbeiro por ter feito uma boa ação já era a recompensa dele, felicidade própria aqueles que fazem alguma coisa somente por amor. Então, era suficiente apenas uma "benção" de Yoneyed para coroar aquele dia cheio de beleza onde duas almas elevadas se encontravam. Esta história persa nos convida a uma profunda reflexão sobre o significado das boas ações. Quantas vezes fazemos alguma coisa somente por amor? "Amar é saber dar sem esperar recompensa..." No entanto, este conto nos parece até uma fábula, pois é difícil encontrarmos tais personagens. Há muita cobrança no mundo de hoje: cobrança do marido, da esposa, dos pais, dos filhos, de irmãos, de amigos. Há exigências demais. Pouco damos sem interesse, ou então, cobramos dos outros uma atitude forçada de "gratidão" ou "respeito". A espontaneidade está sendo esquecida no que se refere a estes dois "sentimentos naturais", que devem brotar do "Ser" tal como o fruto deve brotar da árvore: na estação certa e sob condições favoráveis. "Cobrança não combina com amor". Aliás, é a cobrança a responsável pela morte do Amor. Amor não é uma ação. Amor é uma atitude, um estado de "Ser". Afastemos de nós toda atitude de desamor, e o Amor começará a se manifestar.

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Khalil Gibram, o poeta maravilhoso do Líbano disse sobre o Dar e o "Receber : "Ide aos vossos campos e pomares, e lá descobrireis que o prazer da abelha é sugar o mel da flor, mas, o prazer da flor é entregar o mel à abelha; pois, para a abelha, uma flor é uma fonte de vida, e para a flor, uma abelha é uma mensageira do amor. e para ambas, a abelha e a flor, dar e receber é uma necessidade e um êxtase".

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